sábado, 7 de novembro de 2015

7 Começa a jihad



Depois de conseguir o controle efetivo das tribos de Medina, Maomé centrou de novo suas atenções nos Coraixitas de Meca. As caravanas que levavam mantimentos a Meca desde o Norte, passavam próximas a Medina e Maomé começou a enviar grupos de assalto para que as atacassem. Normalmente, estas caravanas estavam bem protegidas e os primeiros sete intentos não tiveram êxito. Todas as tribos da Arábia tinham um acordo nessa época que estabelecia que ficava proibido qualquer tipo de ataque durante quatro meses santos. Seguramente isto era assim para facilitar o comércio do qual dependiam os árabes. Durante estes meses, se transportavam artigos grandes e custosos sem necessidade de custodiar as caravanas com caros guardas armados. Isto beneficiava a todas as partes e, por esse motivo, todos cumpriam com o acordo sem exceção. No último dia de um desses meses, um dos grupos de saqueadores de Maomé cruzou com uma caravana de Meca. Podiam atacá-la se esperassem um dia mas, por azar, se eles fizessem isso, a caravana já teria entrado nas fronteiras da cidade. A luta estava proibida em todo momento desse território, porque Meca era uma cidade sagrada. Se achavam em um dilema. O que deveriam fazer? Ao final, decidiram atacar a caravana.
Para os leitores céticos (o ceticismo é algo bom), vou incluir uma citação com autorização de Bill Warner do Centre for the Study of Political Islam: é um excerto do livro Mohammed and the Unbelivers (Maomé e os descrentes). Inclui páginas relevantes da Sira, traduzidas para o Português usando a tradução Inglês original que aparece em The life of Muhammad (A vida de Maomé) do professor A Guillaume. Se se compara os dois textos, se vê que Mohammed and the Unbelivers é mais claro e fácil de ler e que, além disso, não elimina nada nem altera a verdade de forma alguma. Por este motivo, a maior parte das citações que incluirei a partir de agora virão desta fonte.

Excerto da Sira:
I425 Os muçulmanos se reuniram para meditar. Enfrentavam um dilema; se atacavam a caravana, matariam em um mês sagrado. Por sorte, o mês sagrado terminava nesse dia e no dia seguinte matar já não estaria proibido. Mas havia outro problema: ao anoitecer, a caravana chegaria na zona santa de Meca. Era proibido matar nesta área sagrada. Ficaram em dúvida e debateram sobre o que deviam fazer. Decidiram matar tantos quanto fosse possível e levar os bens antes que terminasse o dia.
I425 O Islã foi o primeiro a derramar sangue em conflito com os coraixitas de Meca. Atacaram aos homens desarmados. Amr, foi o primeiro homem assassinado pela jihad, com uma flecha. Um homem escapou e outros dois foram capturados. Os muçulmanos levaram os camelos de seus inimigos, junto com os bens que transportavam e regressaram a Medina e a Maomé. Durante a viagem de volta, comentaram que Maomé receberia uma quinta parte do espólio roubado.
I425 Quando regressaram, Maomé disse que não havia ordenado um ataque no mês santo. Reteve a caravana e aos dois prisioneiros e se negou a fazer algo com eles ou com seus bens. Os prisioneiros disseram: “Maomé violou o mês sagrado, derramou sangue, roubou bens e fez prisioneiros”. Mas o Alcorão disse:

2:217 Interrogar-te-ão acerca do mês sagrado: haverá combate nele ou não? Responde: “Guerrear nesse mês é uma enorme transgressão e um afastamento da senda de Deus e um desrespeito a Deus e à Mesquita Sagrada. Mas expulsar dos lugares santos os seus habitantes é uma transgressão maior ainda, pois o erro é pior do que a matança”. Ora, não pararão de vos combater até que levem, se puderem, a renegar vossa religião. E quem de vós renegar sua religião e morrer na descrença terá perdido este mundo e o outro. Esses serão os herdeiros do fogo, onde permanecerão para todo o sempre.  

I426 Segundo Maomé, não aceitar a doutrina do Islã e persuadir aos muçulmanos de que deixassem sua fé era pior do que matar. Antes do Islã, o império da justiça na Arábia supunha que se devia pagar uma morte com outra, mas agora, resistir ao Islã era pior do que assassinar. Era possível matar aqueles que não estavam de acordo com o Islã e se negavam a aceitá-lo e neste caso o assassinato seria um ato sagrado. Assim, se santificou o assassinato e o roubo. O espólio se distribuiria e se pediria o pagamento do resgate pelos prisioneiros. Agora os homens que haviam cometido os assassinatos e o roubo tinham que se preocupar por receber sua parte do espólio. De novo o Alcorão disse:

2:218 Os que creem e emigraram e lutaram na senda de Deus receberão a misericordia de Deus. Ele é clemente e compassivo.

I426 Como muçulmanos que se haviam exilado e que haviam lutado, contavam com a bênção de Alá. Receberam o espólio de guerra e Maomé ficou com vinte por cento.

Excerto do Hadice Sahih Bukhari
Volume 4, Livro 53, Número351: O apóstolo de Alá disse: “Tornei legal o espólio de guerra”.
Um poema de guerra extraido da Sira:
Vós [os coraixitas] considerais a guerra no mês sagrado um assunto grave,
Mais grave é vossa oposição a Maomé e vossa falta de crença. Ainda que nos insulteis por matar Amr, nossas lanças se embeberam em seu sangue.
Acendemos a chama da guerra.
 —Abu Bakr (o braço direito de Maomé)

A jihad, o novo tipo de guerra
Antes de ir a Medina, Maomé nunca havia recorrido a violência. No momento em que contou com meios, começou a atacar os habitantes de Meca por haver desdenhado o chamado do Islã.
A primeira vista, isto não havia sido nada mais que o ataque de um líder tribal (Maomé), que queria roubar os bens de seus rivais. Mas na realidade, foi o início de uma guerra sem fim que Maomé e seus seguidores manteriam contra seus inimigos (os kuffar).
A medida em que avançava no conflito, Maomé desenvolveu uma estratégia para um sistema de guerra completamente novo que chamou de jihad. Os ocidentais traduzem a palavra jihad como “guerra santa”, mas na realidade é algo mais que isso. Maomé era um estrategista militar muito hábil, mas a jihad não tem muito a ver com táticas militares. Se fosse só isso, a jihad teria ficado obsoleta quando houvesse enfrentado as tecnologias militares mais modernas e efetivas: os arcos ou as armas de fogo.
A guerra, como todo tipo de coação violenta, tem um aspecto psicológico, que é mais relevante, desde muitos pontos de vista, do que a própria violencia em si. Maomé possuía o dom de compreender esta psicologia e o talento para incorporá-la na estratégia da jihad. Devido a isto, a jihad é eficaz se alguém luta com arco e flechas, ou se luta com drones. Na medida em que a história for contada, veremos como se desenvolveu essa estratégia. Vou começar a enumerar alguns pontos na medida em que forem aparecendo.

Regras da jihad:
1)      A jihad conta com a aprovação de Alá. Não há autoridade maior, então está sempre justificada.  
2)      Nunca deve tolerar nenhuma norma ou limitação, o fim justifica qualquer meio, por mais mais impactante que seja. A jihad pode ser qualquer tipo de ação que permita o Islã avançar ou que debilite os kuffar, seja um grupo seja um indivíduo. Inclusive doar dinheiro para financiar a jihad é um outro tipo de jihad. 
3)      Sempre se deve fazer de vítima. Maomé distorceu sua situação. Ainda que houvesse sido ele quem atacou as pessoas inocentes sem provocação prévia, ele as acusou porque haviam impedido que outros se convertessem ao Islã e porque veneravam ídolos. Portanto o ataque era culpa dessas pessoas e os muçulmanos eram as vítimas.
4)      Repetir isto uma e outra vez e acabarão por acreditar. Se você for capaz de convencer a vítima a aceitar a culpa, já ganhou a guerra, porque a represália necessita certa injustiça. Se a vítima aceita a culpa, começará a se odiar.
A Bíblia narra atos de guerra empreendidos pelos judeus contra seus inimigos que contam com a aprovação de seu Deus. Esta autorização só se dava nas batalhas e circunstâncias específicas da história. Não era parte de uma estratégia em curso para dominar o mundo. O Deus da Bíblia não aprovava a violência sem trégua ou a provocação contra os crentes.

Tradução ao português feita a partir da tradução em inglês por parte do professor Guillaume do texto original em Árabe (A Sira):

EXPEDIÇÃO DE ABDULLAH BIN JAHSH E O INÍCIO DE «ELES PERGUNTARAM PELO MÊS SAGRADO»

O apóstolo enviou a Abdullah bin Jahsh em Rijab quando regressou do primeiro Badr. Enviou com oito emigrantes (muçulmanos de Meca que fugiram para Medina com Maomé) e sem nenhum ansari (muçulmanos de Medina que receberam Maomé para que vivesse com eles quando veio de Mec). Escreveu para eles uma carta e ordenou que não a lessem até que já houvesse transcorrido dois dias de viagem; devia fazer o que lhe dizia mas não tinha que pressionar a seus acompanhantes. Os nomes dos oito emigrantes eram: 1-Abu Hudhayfa, 2-Abdullah bin Jabsh, 3-Ukkasha bin Mibsan, 4-Utba bin Ghazwan, 5-Sa’d bin Abu Waqqas, 6-Amir bin Rabi’a, 7-Waqid bin Abdullah e 8-Khalid bin al-bukayr. Quando Abdullah já levava dois dias de viagem, abriu a carta e a leu. Isto era o que estava escrito: “Uma vez que que leia esta carta, continue até que chegue a Nakhla, entre as cidades Meca e Al-Ta’if. Espere aí os Coraixitas e averigue o que fazem”. Depois de ler a carta, disse: “Ouvir é obedecer”. Logo informou a seus companheiros: “O apóstolo me ordenou que vá a Nakhla e espere aos coraixitas para poder levar informação. Ele me proibiu de pressioná-los, assim se alguém deseja o martírio pode avançar, se alguém não deseja, pode dar a volta; por mim eu vou fazer o que ordenou o profeta”. Assim seguiu junto com todos os seus acompanhantes, pois ninguém deu a volta. Viajou pela zona de Hijaz até chegar a uma mina chamada Babran, situada mais acima do al-Furu. Então, Sa’d y Utba perderam o camelo que montavam por turnos, pois que tiveram que ficar procurando enquanto Abdullah e o resto seguiam rumo a Nakhla.Muito próximo do grupo passou uma caravana de Quraish que levava passas, couro e outras mercadorias. Com a caravana viajavam Amr bin al-Hadrami (349), Uthman bin Abdullah bin Mughira e seu irmão Naufal el Makhzumita (349), Uthman bin Kaysan, escravo alforriado de Hishm bin al-mughira. Quando a caravana os viu, eles se assustaram porque haviam acampado muito próximo. Ukkasha, que havia barbeado a cabeça, os olhou e os outros o viram, se sentiram a salvo e disseram: “São peregrinos, não temos nada a temer”.
Depois se animaram uns aos outros e decidiram matar tantos quanto puderam e levar o que tinham. Waqid disparou uma flecha a Amr bin al-Hadrami e o matou, Uthman e Al-Hakam se renderam. Naufal conseguiu escapar. Abdullah e seus companheiros levaram a caravana e os dois prisioneiros, e voltaram para Medina. Um membro da família de Abdullah mencionou que disse aos que o acompanhavam: “Uma quinta parte dos bens é para o apóstolo” (isto foi antes de que Deus lhes designasse uma quinta parte dos espólios). Assim separaram uma quinta parte da caravana para o apóstolo e dividiram o resto. Quando chegaram ante o apóstolo, ele disse: “Não ordenei um ataque no mês sagrado” e não decidiu com firmeza o que fazer com os dois prisioneiros e a caravana, se negando a aceitar alguma coisa.
Dito isso, os homens se desesperaram, convencidos de seu erro. Seus irmãos muçulmanos  recriminaram o que haviam feito e os coraixitas asseguraram que “Maomé e seus acompanhantes haviam violado o mês sagrado, derramando sangue, roubando os espólios e capturando prisioneiros”. Os muçulmanos de Meca que se opunham a eles disseram que haviam feito no Shaban. Os judeus viram este ataque como um presságio contra o apóstolo. “O nome de Amr g al-Hadrami, que havia sido assassinado por waqid, significava “amarate’l-harb” (a guerra nasceu), al-Hadrami significava “hadrati’l-harb” (a guerra está presente) e waqid significava “wugadati’l-harb” (a chama da guerra foi acesa). Mas Deus fez com que isso se voltasse contra eles.
Em pleno debate, Deus falou com seu apóstolo: “Perguntarão sobre a guerra no mês sagrado. Diga que a guerra neste mês é um assunto grave, mas distanciar as pessoas do caminho de Deus e não crer nele nem na mesquita sagrada, expulsar as pessoas é muito mais grave para Deus. Quer dizer, se você matou no mês sagrado, eles o afastaram do caminho de Deus com sua falta de fé e o impediram de ir a mesquita, expulsando-o dela quando era parte de seu povo. Isto é mais grave aos olhos de Deus do que os assassinatos cometidos. O engano é pior do que a matança, eles seduziam os muçulmanos em relação a sua religião até que os levaram a falta de fé depois de haver sido crentes, isso é muito pior para Deus do que matar. Além disso, eles não cessarão sua luta até que reneguem sua religião. Quer dizer, seus atos são mais depreciáveis e cometem com dolo. Quando o Alcorão tratou disto, Deus aliviou a ansiedade que sentiam os muçulmanos por este assunto e o apóstolo tomou posse da caravana e dos prisioneiros.
Os coraixitas enviaram emissários para resgatar Uthman e a al-Hakam e o apóstolo disse: “não os livraremos até que regressem nossos companheiros, Sa’d e Utba, pois tememos pela sua vida. Se os matarem, mataremos seus amigos”. Assim pois, quando Sa’d e Utba regressaram, o apóstolo permitiu o resgate dos prisioneiros. De sua parte, al-Hakam se converteu em um bom muçulmano e permaneceu com o apóstolo até sua morte como mártir em Bi’rMa’una. Uthman voltou a Meca e morreu ali como um não crente. Quando Abdullah e seus companheiros se recuperaram da ansiedade graças as palavras do Alcorão, se interessaram pela recompensa e perguntaram: “podemos esperar que este ataque conte como um saque do que receberemos a recompensa própria dos combatentes?”
Assim respondeu Deus: “Aqueles que creem e emigraram e lutaram de acordo com os ensinamentos de Deus, podem esperar sua misericórdia, pois Deus é compasivo e clemente”. Deste modo, Deus lhes concedeu a maior das esperanças. Esta tradição provém de al-Zuhri e Yazid bin Ruman de Urwa b al-Zubayr. Um dos membros da familia de Abdullah mencionou que Deus dividiu o espólio quando concedeu permissão e uma quinta parte reservou para Deus e seu apóstolo. Assim se assentaram as bases do que havia feito Abdullah com o espólio da caravana.
Quando os coraixitas lançaram a acusação de que: “Maomé e seus acompanhantes haviam violado o mês sagrado, derramado sangue, roubado o espólio e capturado prisioneiros”, Abu Bakr disse sobre o saque de Abdullah (se bem que outros afirmam que foi Abdullah o que falou):
“Parece grave atacar no mês sagrado, porém mais grave é, se o julga de forma correta, sua oposição aos ensinamentos de Maomé e sua falta de fé nos mesmos, que Deus vê e conhece. Afasta o povo de Deus de sua mesquita para que ninguém possa venerar aí. Ainda que nos insultem por matar, mais perigoso é para o Islã o pecador que sente inveja. Nossas lanças beberam o sangue de Ibn al-Hadrami. Em Nakhla quando Waqid acendeu a chama da guerra, Uthhman Ibn Abdullah estava conosco, lhe sujeitava uma mão com uma luva de couro da qual caía sangue”.

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