sábado, 7 de novembro de 2015

8 A batalha de Badr



Havia uma grande caravana que regressava de Meca carregada de bens e tesouros. Maomé se informou e decidiu atacá-la para roubar o que ela transportava. Alguns de seus homens não estavam certos de querer participar, porque tinham família entre os coraixitas e eram todos da mesma tribo. Matá-los sempre tinha sido proibido antes da chegada do Islã, mas agora Maomé permitia. Maomé enviou um pequeno exército ao ataque, mas os da caravana haviam sido informados do que ia acontecer. Enviaram o cavaleiro mais rápido a Meca para pedir ajuda. Os habitantes de Meca reuniram um exército a toda velocidade e marcharam em direção ao Norte para defender a caravana. Com tudo isso, a caravana havia conseguido se esquivar do exército de Maomé e já havia entrado em Meca. Ainda que a caravana se encontrasse fora de perigo, o exército de Meca decidiu ir ao encontro dos muçulmanos em um lugar chamado Badr.
Até esse momento, os lutadores de Maomé não tinham se envolvido em uma batalha real. A maioria de seus alvos havia sido pequenas caravanas de comerciantes. O exército dos muçulmanos contava com muito menos soldados, mas a batalha começou e Maomé teve uma revelação que ficou registrada na Sira:

I445 Algumas flechas cortaram o céu e um muçulmano morreu. Maomé falou com seu exército: “Por Alá, cada homem que morra hoje lutando com valor, avançando e sem retroceder, entrará no Paraíso”. Um de seus homens, que até então estava comendo tâmaras, disse: “quer dizer que se os coraixitas me matarem não haverá nada que se interponha em meu caminho ao Paraíso?”. Colocou as tâmaras no solo, desembainhou a espada e foi a luta. Cumpriu seu desejo e morreu em pouco tempo.

I445 Um dos homens de Maomé perguntou o que fazia rir a Alá. Maomé respondeu: “quando um guerreiro adentra a batalha contra o inimigo sem armadura”. O homem tirou o traje de malha, desembanhou a espada e se preparou para atacar (e morreu).

Os muçulmanos receberam uma injeção de valor ao conhecer a revelação de Maomé. Não somente haviam perdido o medo da morte, como também a desejavam. Se ganhavam a batalha, ficariam com o espólio de guerra e se perdiam, subiriam ao paraíso.
A batalha foi favorável aos muçulmanos, o destino quis que se levantasse uma tormenta de areia no momento decisivo e que soprasse em direção aos combatentes de Meca. Segundo Maomé, estes eram os anjos que sopravam areia em direção aos rostos dos inimigos. Os muçulmanos ganharam sua primeira batalha contra toda expectativa. Apesar de Maomé ser de fato um estrategista militar muito hábil, o certo é que foi a sua capacidade para motivar seus seguidores para essa valentia suicida que consistiu a sua verdadeira genialidade.

Excerto da Sira:
I455 Enquanto se arrastavam os corpos ao poço, um dos muçulmanos viu ali o corpo de seu pai e disse: “Meu pai era um homem virtuoso, sábio, amável e culto. Esperava que virasse muçulmano, mas morreu como kafir. Agora sua morada será o fogo do inferno por toda a eternidade”. Antes do Islã, sempre havia sido proibido matar um membro de sua própria familia ou tribo. Depois da chegada do Islã, um irmão podia matar outro e os filhos podia matar seus pais se lutavam por causa de Alá: a jihad.

Comentários do autor:
Ainda que fossem apenas umas poucas centenas de homens os que participaram da batalha, esta foi provavelmente uma das mais importantes contendas na história, pois marca o ponto de inflexão de uma religião professada por mais de um bilhão e meio de almas na atualidade. Os muçulmanos conhecem muito bem esta batalha, enquanto que a maioria dos ocidentais não sabe de sua existência. Os homens de Maomé foram a luta como um grupo de bandidos desordeiros, mas saíram da batalha convertidos em uma potente força política. A notícia do êxito de Maomé chegou em todas as partes na Arábia e esta vitória (junto com o espólio de guerra) trouxe mais seguidores.

O fundamental, além disso, é que Maomé reforçou os alicerces do novo sistema: a jihad. Ao introduzir o conceito do martírio em sua religião (ou movimento político), conseguiu inspirar seus seguidores para que abraçassem a ideia do valor suicida. Isto representa uma vantagem considerável para qualquer exército, sobre tudo para alguém capaz de substituir guerreiros mortos tão depressa, tal como demonstrou o Islã. Maomé compreendeu depois a vantagem que isto supunha e a partir deste momento, grande parte de seus ensinamentos girariam em torno da importância do martírio. Falou em repetidas ocasiões das recompensas que esperavam aqueles mártires quando chegassem na outra vida, prêmios que superavam com diferença o que um muçulmano normal podia receber. Há distintos níveis no ciclo do Islã, as diferenças que existem entre os mesmos podem ser tão grandes como as que existem entre a vida na terra e o primeiro nível do céu. Os shahid (mártires) vão direto ao nível mais elevado.


Regras da jihad:
5) Inspire seus seguidores ao valor suicida e fanático.

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